21 setembro, 2007

FREAKS

Gênero: Terror Clássico da Universal 

Ano: 1932 

Com: Olga Baclanova, Harry Earles, Daisy Earles, Leila Hyams, Wallace Ford 

Direção: Tod Browning 

Argumento: Pode uma mulher normal amar um anão?


A turma reunida com Browning entre eles. 

Sinopse: A bela e maquiavélica trapezista Cleopatra é admirada pelo colega de Circo e anão Hans. Frieda, noiva de Hans (também uma anã), avisa-o que Cleopatra está apenas interessada em sua herança bilionária, pois esta já possui um envoviomento com Hércules, o homem-forte do Circo. Hans não lhe dá ouvidos e deixa-se envolver no plano arquitetado por Cleopatra e Hércules, que resulta no casamento do anão com a trapezista. Durante a festa de casamento, Cleopatra, bêbada, atira-se nos braços de Hércules, levando Hans à humilhação. Apesar disto, ela é aceita pelas outras aberrações, o que a leva à loucura quando é comparada a eles. As berrações desmascaram o plano de Cleopatras e partem para a revanche, dispensando Hércules do Circo e arranjando uma nova carreira para Cleopatra, como a Mulher-Galinha.
Nota: 10


Wallace Ford é o palhaço Phroso 

Atuação: O casal de anões, Hans e Frieda, possuem as melhores atuações da fita. Talvez, também por serem os dois personagens mais desenvolvidos - Frieda no vácuo de Hans. Os dois eram um casal também na vida real, Harry e Daisy Earles e, enquanto Harry era um ator conhecido (atuou em mais de uma dúzia de produções entre as décadas de 20 e 30), sua esposa participou apenas de Freak e O Mágico de Oz, de Fleming, ao lado do marido. Palmas também para os ótimos atores Wallace Ford (Phroso) e Leila Hyams (Venus), também possuidores de carreiras exitosas. Apesar de as aberrações serem atores de primeira e única viagem, não deixam de ser artistas talentosos, principalmente as irmãs siamesas Daisy e Violet. Única ressalva para Olga Baclanova, carregada no sotaque russo e nas expressões exageradas.
Nota: 9


As gêmeas siamesas Daisy e Violet curtindo um momento de descontração após a fama. 

Roteiro: Todd Browning soube aproveitar bem o plantel de "aberrações" que tinha à mão. As sub-histórias de relacionamento entre eles são bem interessantes. Além do fio condutor principal, bem desenvolvido, entre Hans e Cleopatra, ainda existe o romance entre o palhaço Phroso e a bela Venus; o nascimento do filho da Mulher-barbada e, principalmente, a dificuldade de se manter relações com gêmeas siamesas. Essa subhistória é a mais deliciosa: Daisy é casada com um irascível e ciumento palhaço, enquanto sua irmã, a tempestuosa Violeta, enamora-se de um "normal" muito bem apessoado. A cena em que os dois pretendentes das irmãs conhecem-se, e convidam-se para "visitá-lo e à sua esposa" é divertidíssima. Ponto também para o hermafrodita Joseph-Josephine e a ótima piada a respeito dele/dela: "acho que ela gosta de você, mas ele não".
Nota: 9


As aberrações: "She's one of us! One of us!" 

Linguagem: Ah, o cinema clássico de horror da Universal, com seus planos americanos, cortes rápidos, cenários trabalhados e lento desenvolvimento dos personagens... Está tudo lá. Tod Browning possui um estilo bastante apurado para época, com um senso incrível de onde colocar a câmera. Devido aos cortes impostos pelo estúdio, a edição ficou um pouco confusa. Existe até duas caras tomadas fora de estúdio, uma com uma dolly ao luz do dia, outra à noite, no meio de uma tempestade (a qualidade visual da fita neste ponto decai enormemente, por razões óbvias). Em alguns diálogos, para efeito dramático, a câmara move-se (ao que parece, no ombro do operador, mas seria isso possível em 1932?). Num costume posteriormente incorporado por gente como Hitchcock, a primeira cena, através de um panorâmica, ambienta o filme, enquanto um personagem-narrador explica, na forma de diálogo, tudo o que vai acontecer sem, ao mesmo tempo, nunca contar nada.
Nota: 8


Hans, manipulado por Hércules e a vil Cleopatra 

Desenvolvimento: O filme é segmentado em duas partes, com apenas um ponto de virada, o que provavelmente atrapalha à nós acostumados com a estrutura "sydfieldiana". Na primeira metade (a primeira meia-hora da fita), somos apresentados a todos os personagens e todas as relações existentes entre eles. Ao lado da história principal (o "quadrado" amoroso entre Hans, Frieda, Hércules e Cleopatra), desenvolve-se outros núcleos de personagem, como Venus e Phroso e as irmãs siamesas. Na segunda metade, com virada na cena do casamento, há o desmascaramento do plano de Cleopatra, a orquestração da vingança das aberrações e a execução da mesma. Como o filme tem apenas 64 minutos e, sabendo da história complicada por qual ele passou, tem-se sempre a clara impressão de que várias cenas ficaram de fora da edição final. Algumas cenas carecem de explicação (como o porque de Venus ter deixado seu antigo amante), assim como muitos personagens carecem de desenvolvimento - praticamente, todas aquelas que não tem aparência "normal" ficam de fora, como as trigêmeas retardadas, a mulher-barbada (que nunca aparece em close), o homem-saco, a garota-sem-braços, etc. Apesar disso, o núcleo central da história é bem construído e desenvolvido.
Nota: 7 

Total: 86% 

Proibidão: Freaks é um filme mais comentado do que propriamente assistido. A idéia de que não existe maquiagem nem próteses nos atores, que tudo aquilo ali é real é chocante até hoje. Como bom apreciador do Gordon Lewis que sou, sempre gostei dos meus filmes com pitadas generosas de gore mas sempre corri quando coisas mórbidas como fotos de acidentes, operações, mutilações, ou Faces da Morte caiam em minhas mãos. Há uma linha bem definida entre a ficção e a realidade que nunca deveria ser transposta. O ar de "filmão proibido" para Freaks é, porém, do mais benéfico. Todd Browning quase jogou sua carreira fora depois desta insanidade. Afinal, não seria um insano quem fizesse um filme sobre aberrações COM aberrações em plena década de 1930, quando não existia a mínima informação sobre estes indivíduos? Só mesmo um visionário como Browning. A simples idéia de executar um filme destes, com estas circunstâncias, ainda hoje causa repulsa. 

Depois de tudo: Clap! Clap! Clap! Maravilhosamente orquestrado e executado, o filme me prendeu do começo ao fim. Pena que algumas aberrações não foram muito exploradas, devido à censura da época. Nada que afete a qualidade do produto final, que certamente deve figurar entre os clássicos da Universal. Palmas para Browning pela ousadia e para as aberrações pela coragem. Um clássico do cinema do terror. 

Cena favorita: Quando as aberrações, durante uma tempestade, engatinham armados na lama para vingar-se de Hércules. Uma das cenas clássicas do cinema.

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